O Verdadeiro Espírito da Trova: Técnica, Humildade e Aperfeiçoamento
- Messias Rocha
- 10 de fev.
- 2 min de leitura

Trovador eu sou, amante inveterado da trova, essa pérola poética da língua portuguesa. Ao longo do tempo, fui incluído em muitos grupos dedicados a essa arte. Participei de quase todos e pude observar que, nesses círculos, é comum que os participantes troquem elogios entre si e, nos eventos trovadorescos, celebrem mutuamente suas produções, muitas vezes sem uma avaliação mais criteriosa. No entanto, a trova é uma peça poética que tem regras bem definidas. A trova literária é uma composição de quatro versos heptassílabos (sete sílabas poéticas) com sentido completo, rimando o 1º verso com o 3º e o 2º com o 4º, no tradicional formato ABAB. Conceitualmente, a trova pode adotar outras formações, como AABB, ABBA ou ABCB (onde apenas o 2º verso rima com o 4º). Porém, nos concursos realizados no Brasil, salvo regulamento em contrário, a estrutura exigida é sempre ABAB.
A trova literária se distingue pelo grau de elevação na forma e no conteúdo. Diferencia-se das quadras populares, que são mais espontâneas e brincalhonas, sem tanta preocupação com a perfeição técnica. Muitos trovadores iniciantes pecam por não compreender adequadamente o mecanismo das rimas, a métrica rigorosa da redondilha maior (com suas variadas elisões) e, sobretudo, a necessidade de que, em quatro versos e sete sons poéticos, haja uma mensagem completa, clara e inteligível. Além disso, é fundamental um grande zelo gramatical, aspecto frequentemente negligenciado, mas essencial para que a trova atinja seu verdadeiro potencial literário.
Nos concursos com prazos exíguos, é comum que novos trovadores, na pressa de submeter seus versos, acabem criando algo que jamais será uma verdadeira trova. A trova genuína precisa ser pensada, burilada e trabalhada exaustivamente para transmitir uma mensagem real e envolvente, seja ela de amor, cunho social ou filosófico.
Muitos dos novos trovadores hesitam em pedir opinião a poetas mais experientes. Criam versos com palavras bonitas, mas, por vezes, sem sentido coerente. No entanto, essa humildade é essencial. Pedir ajuda a um trovador mais experiente não diminui ninguém. Funciona como se um certo Vincent (talvez Van Gogh) estivesse pintando um magnífico quadro — um campo de girassóis, uma casinha amarela com uma chaminé fumegante — e um amigo, pintor ou não, sugerisse: “Por que não adicionar um pássaro fugindo dessa fumaça negra?” Vincent gosta da ideia e, com algumas pinceladas, incorpora a sugestão.
Esse detalhe não faz do amigo um gênio, nem reduz o talento do pintor. Da mesma forma, ninguém perde nada por aceitar um conselho, e quem sugere algo útil não se torna automaticamente um mestre. Simples assim.
Messias da Rocha
Jornalista, Poeta e Trovador
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