BELMIRO BELARMINO DE BARROS BRAGA
Belmiro Belarmino de Barros Braga nasceu na Fazenda da Reserva, antigo Distrito de Vargem Grande (hoje Município com o seu nome), perto de Juiz de Fora, a 7 de Janeiro de 1872, e morreu em Juiz de Fora, a 31 de Março de 1937. Hoje há em Minas dezenas e dezenas de academias e grêmios literários com o nome do poeta. E Juiz de Fora, muito particularmente, reverencia e cultua a memória de Belmiro Braga que dedicou à "sua cidade", e ao lar paterno,um amor extremoso. De Belmiro poderia dizer que ele quase falava em versos. E se não falava, escrevia.
Trovador, no velho e no novo sentido da palavra, estava em permanente dueto lírico com a vida. Tudo lhe era assunto para a quadra, um soneto, uma redondilha. A gente vai lendo e se admirando de que as palavras casem tão bem no fim dos versos, como se tudo já estivesse feito, e o poeta fosse apenas o “instrumento” que as cantava e divulgava. Foi um grande, um extraordinário versejador. Lírico e satírico, mas de uma sátira jocosa, sem maldade, era fundamentalmente um grande emotivo, um sentimental incorrigível. Satírico como ele só, de certa feita, Belmiro Braga satirizou um advogado juiz-de-forano, que falava, como diz o povo, "pelas tripas do judas", mas cacete que nem ele só:
"Um certo orador maçante,
das margens do Paraibuna
ao falar, de instante a instante
vai esmurrando a tribuna.
E quem o conhece, sente
por mais ingênuo ou simplório,
que os murros são simplesmente
para acordar o auditório."
De outra vez a vítima não foi outro se não o imortal Ruy Barbosa. Veja o que ele aprontou ao amigo:
A CABEÇA DE RUI (BARBOSA)
Um dia, se não me engano,
em dezembro faz um ano,
a um certo cinema eu fui
e me assentei junto ao Rui.
E a sua cabeça - um mundo
de tanto saber profundo,
não me deixou ver o rosto
do meu amor... que desgosto!
Amo ao grande Rui, com ânsia,
mas, naquela circunstância,
que nunca tal me aconteça!
Porque a verdade é verdade:
eu cheguei a ter vontade
de ver o Rui sem cabeça!
Belmiro foi único. Só não oficializou o seu "Magnífico Trovador" porque, obviamente, não tinha como: faleceu em 1937 e os Jogos Florais de Friburgo só começaram em 1960, o mesmo caso de Bastos Tigre.
Deleitem-se, a seguir, com suas obras-primas:
As almas de muita gente
são como o rio profundo:
-a face tão transparente,
e quanto lodo no fundo!...
Em ti, minha mãe, se encerra
todo o meu maior troféu:
- guardas num corpo de terra
uma alma feita de céu.
Fiz na vida o meu escudo
desta verdade sagrada:
- o nada com Deus é tudo
e tudo sem Deus é nada.
Quem, mesmo nas alegrias,
de lastimar não se furta
de ver tão longos os dias,
para uma vida tão curta?...
Quem, mesmo nas alegrias,
de lastimar não se furta
de ver tão longos os dias,
para uma vida tão curta?..
Pobre de mim! Por desgraça
meu coração é um coador:
nele, o riso escorre e passa
e fica tudo o que é dor.
A beleza não te atrai?
Só te casas por dinheiro?
Tu pensas como teu pai,
que morreu velho e... solteiro.
Saudade... palavra linda,
de sete letras... Saudade
é noite que tem ainda
lampejos de claridade
Casa em março a Ester Macedo
e em julho é mãe...Ora,o alarde!
O filho não veio cedo,
o esposo é que veio tarde...
Só mesmo Nossa Senhora
pode dar paz e conforto
à desgraçada que chora
a ausência de um filho morto.
Muitas vezes imagino,
nos meus dias desolados,
que o meu coração é um sino
dobrando sempre a finados.
Eu não lamento o revés
do morto que se fez pó;
do vivo, que espera a vez,
desse sim, eu tenho dó.